Gestão familiar em instituições privadas de ensino. Uma coisa boa ou ruim?
Por Keyla Glícia de Freitas Maia Mascarenhas
Palestrante e vice-diretora do Instituto Educacional Novos Tempos, escola que atende da Educação Infantil ao Ensino Médio e está localizada no Centro de Contagem. Graduada em Administração de Empresas pela UNA, com licenciatura plena em Matemática pelo UNI/BH, MBA em Gestão Escolar pela FPL Educacional, concluiu recentemente o curso de extensão EAD em Análises Organizacionais pela Universidade de Stanford/EUA e tem uma grande trajetória de sucesso e de muita dedicação à missão de educar.
A gestão familiar se tornou objeto de estudo específico no meio acadêmico, especialmente a partir do início da década de 1980. Isso porque, embora não haja estatísticas muito precisas, os dados existentes mostram que a maioria das empresas em qualquer economia do mundo é controlada por um núcleo familiar. Sendo assim, é possível afirmar que a empresa familiar exerce forte participação no ambiente econômico da maioria dos países. Tal fato não é diferente no ambiente econômico do Brasil, inclusive no setor de educação. Porém, ainda não existe uma definição consensual para esse tipo de empresa, considerada heterogênea e complexa por suas particularidades.
Percebe-se que há uma necessidade de melhora na qualidade do ensino em nosso país e acredita-se que isso só seja possível através de uma gestão escolar eficiente já que uma transformação social acontece por meio da transformação pessoal que a educação proporciona.
Porém, o pensamento de que uma gestão escolar profissional e competente pode fazer significativa diferença no desempenho da educação, é recente. Um dos momentos mais importantes dessa transformação aconteceu na década de 1980, quando a necessidade de aproximar os princípios da gestão escolar aos da gestão empresarial se tornou impactante. Especialmente para as instituições particulares, que se viram diante de uma concorrência de mercado pela primeira vez, considerável. Há também, atualmente, a atuação de grandes grupos de investidores no mercado brasileiro de educação. Assim, a rotina do gestor escolar tornou-se cada vez mais complexa. Um gestor precisa considerar os diversos fatores que implicam no sucesso da gestão, tais como os recursos financeiros, as relações humanas, o planejamento de curto e longo prazo, a captação e a fidelização de alunos entre muitos outros.
O gestor deve ter uma visão global da instituição, mas, ao mesmo tempo, focada nos alunos. Ou como disse Fernando Almeida, professor da PUC/SP e ex-secretário de educação da capital paulista: “É ele quem cuida de todas as partes desse organismo vivo”.
Acredita-se que a empresa sob o modelo de gestão familiar apresenta muitas desvantagens e enfrenta desafios que, se mal administrados podem levá-la ao fracasso. Dentre esses, problemas familiares particulares, problemas na definição de estratégias e a questão sucessória ocupam lugar de destaque.
A sucessão deve ser voluntária e considerar o interesse e a capacidade do sucessor. Se houver impasse nesta questão, é provável que o melhor seja optar pela chamada Governança Corporativa. Assim, a administração do negócio passa a ser conduzida por um conselho de administração ou ainda, treinar um funcionário-chave ou contratar um administrador, mantendo o controle sobre as principais questões.
Em contrapartida, acredita-se que com uma maior cobrança da sociedade para uma gestão ética e transparente de qualquer empresa e a criação do conceito de Responsabilidade Social, junto a uma série de princípios, as empresas familiares, na maioria das vezes, sejam as preferidas pelos consumidores devido ao fato de serem vistas como socialmente conscientes e que aceitam certas “perdas” no intuito de manter a empresa e a comunidade ao seu redor. Aliás, foram esses pensamentos que fundamentaram o levantamento da hipótese de que o modelo de gestão familiar pode representar um diferencial competitivo para as instituições de ensino.
Dentre as coisas que os seres humanos consideram de maior importância, podem-se destacar a convivência com a sua família e o desempenho de suas atividades trabalhistas. A empresa familiar traz a interessante possibilidade de agrupar essas duas necessidades, tornando o trabalho mais harmonioso e produtivo. Assim, a empresa familiar tem suas vantagens, as quais podem viabilizá-la e levá-la ao caminho do sucesso.
Segundo a professora e escritora Ana Maria Carrão, uma vantagem da empresa familiar é a sua cultura, cuja estabilidade tem como causa principal a permanência do titular no comando por longo período de tempo. Assim, decorrentes dessa cultura, a lealdade e o comprometimento dos empregados tendem a ser maiores e o meio externo continuará depositando confiança na empresa, enquanto as condições oferecidas forem favoráveis. Há ainda, uma forte correlação entre a necessidade de sucesso pessoal por parte do fundador e o êxito da empresa.
É preciso buscar equilíbrio, que pode ser alcançado através de um conjunto de atitudes partindo, preferencialmente do fundador como, por exemplo, a fixação de regras claras de gestão e de relacionamento entre os membros da família gestora, o que contribuiria para definir o papel de cada um na instituição e para priorizar a situação financeira da empresa em detrimento da situação financeira da família, a fim de evitar o enfraquecimento ou até mesmo o fechamento do negócio. Além de outras atitudes como a qualificação dos membros da família, a diversificação dos negócios e eficiente administração dos assuntos particulares. Seria interessante, ainda, observar que a medida que a família cresce, se torna importante a elaboração de um acordo a fim de minimizar conflitos. Através de tal documento, é possível disciplinar as relações entre os membros da família, estabelecendo regras que deveriam ser cumpridas por todos. O acordo poderia ser anexado e registrado no contrato social, delimitando os direitos e deveres de cada membro ou acionista.
Por fim, é possível concluir que uma instituição não pode ser classificada como boa ou ruim considerando-se simplesmente o fato de ser ou não familiar. O que existem são peculiaridades inerentes a cada uma delas, ou seja, existem vantagens e desvantagens em ser uma instituição familiar, assim como existem vantagens e desvantagens em não ser. Uma empresa familiar precisa potencializar seus pontos fortes, especialmente a rapidez e desburocratização do sistema de decisões, maior valorização dos interesses regionais e lealdade dos funcionários, entre outros. E minimizar seus pontos fracos, como a influência dos conflitos familiares nos negócios e o processo de sucessão.
Assim será possível aproveitar todo o potencial que uma instituição familiar tem.