Por Fagner Ribeiro Sena
Bacharel e licenciado em letras, especialista em revisão de textos e mestrando em Linguística e Língua Portuguesa PUC-MG e foi estudantes especial na UNICAMP. Atualmente é assessor político na Administração Regional Ressaca e foi assessor na Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho e Segurança Alimentar
O papel da escola por uma nova ordem informacional
“Tudo o que é sólido desmancha no ar” é o título de um livro instigante do filósofo e escritor estadunidense, Marshall Berman, que faz uma criativa viagem intelectual por autores como Marx, Guethe, Dostoiéviski, Baudelaire dentre outros para tentar compreender as marcas principais da vida moderna. Distinguir o que é permanente do que é transitório; o que surge e o que se desmancha.
O autor não imaginava que o mais rarefeito, o mais difícil de compreender ainda estava por vir. Que a vida moderna ainda iria chegar a tal ponto que conquistas que, à primeira vista, pareciam estabelecidas para a civilização, nunca seriam colocadas em questão: democracia (sufrágio universal), direitos civis e políticos. Pois bem, esse é o nosso tempo, um tempo de perguntas fracas e ainda de ausência de respostas. Um tempo de guerras culturais cujas ideias, sem qualquer filtro entram nas casas, nos corações e mentes, sem distinguir idade, sexo, classe social pelo aparelho celular. Vivemos o tempo da língua de espelho, do regime da quantidade de informação, que satura e subverte os sentidos, das verdades transitórias ou das pós-verdades.
O processo avassalador de digitalização do mundo e da vida coletiva e individual é, sem sombra de dúvida uma grande conquista. Não podemos, de forma alguma, jogar a criança fora com a água do banho. Faz parte da marcha natural da evolução da humanidade, dos avanços na tecnologia, da informação. Ocorre que o processo de digitalização, ao que me parece, se deu em descompasso, com o desenvolvimento, em larga escala, das condições para que a sociedade adentre nessa ordem devidamente preparada. Considero que existe um descompasso entre os avanços no campo das tecnologias de informação, com sua disseminação em larga escala (de forma democrática) e o nível geral de consciência das pessoas, do desenvolvimento de habilidades e competências de para leitura e interpretação de tudo o que chega pelo aparelho celular em larga escala.
Longe de mim querer colocar a responsabilidade do mundo como está no sistema educacional. Dizer que as pessoas leem mal, que elas acreditam em tudo o que chega pelas redes sociais por falha da escola é um despropósito. A escola é mais uma vítima de um processo de avanços que se deram ao arrepio dos sistemas educacionais. Afinal, as grandes empresas que gerem redes e plataformas que dominam o mundo são todas privadas. A escola é, sim, o local que pode definitivamente contribuir para reduzir o descompasso entre quantidade de informação e habilidade de processar, interpretar e intervir na realidade social, cultural e política. E a escola, tanto pública quanto privada, tem buscado fazê-lo, mesmo que sem um direcionamento das políticas educacionais.
Letramento digital em larga escala, esse é o desafio para que o conjunto da sociedade relacione-se melhor com o digital, o que é um imperativo do nosso tempo. Muito além de manusear um aparelho ou ter acesso a uma facilidade por aplicativo ou algo similar, é preciso desenvolver competências e habilidades de leitura e intepretação no ambiente digital. E só cabe à escola assumir a vanguarda desse processo, como tem feito premida pela pandemia da COVID-19, inda tem do que recuperar o prejuízo do próprio processo de ensino aprendizagem das nossas crianças.
A escola, pelo seu poder de chegar até as pessoas, pela credibilidade dos seus profissionais e por ser, por excelência, território da livre circulação do conhecimento, da cultura e da socialização, está fazendo, pode, deve e fará fazer muito mais para formar uma nova e necessária consciência leitora.
É preciso repor e reorganizar os valores da civilização, tais como democracia, a crença na ciência, abalados pela era digital. E a escola mais uma vez está sendo chamada aos a desempenhar sem papel de vanguarda.
(*)Luzedna Glece
Diretora proprietária do Colégio Avançar/CEIAV- CEIAV; Vice-presidente Câmara da Educação Infantil ACIC. Uma das fundadoras do Unidas Transformando Você. Colunista da Educação do Jornal O Folha. Formação: graduada em Pedagogia com licenciatura em Orientação, Supervisão, Séries Iniciais e Administração Escolar; pós-graduada em Psicopedagogia Clínica, Licenciatura em Magistério e Graduação em Neurociência; palestrante de temas voltados às áreas de Educação, Motivação, Relacionamentos Interpessoal e Intrapessoal; estudiosa com trabalhos reconhecidos sobre o tema Bullying; experiências profissionais: professora das séries iniciais e do curso de pedagogia, coordenadora, orientadora, diretora de redes particulares de ensino, supervisora, orientadora diretora regional do Sistema FIEMG.