Uilner Xavier
Professor de Filosofia e História, especialista em gestão escolar e mestre em Filosofia da Religião. Trabalha como coordenador pedagógico no Colégio Avançar, professor de Filosofia na Rede Estadual de Ensino e presta consultorias em Metodologias de Ensino Remoto – Formação de Professores.
Aprendi com meu labor diário que educação se faz com paixão, uma paixão destemida, uma espécie de furor interno que nos motiva, revigora e agita. O desejo de entrega é acompanhado de um único querer: tornar os estudantes “maiores”. Para entendermos o conceito de maioridade, faz-se necessário retomarmos Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão que nos exortou, e muito, criticando nosso processo de terceirização de decisões e também do conhecimento.
Ele afirma que a maioridade é o tempo do esclarecimento – esclarecer-se é se apresentar, tornar-se responsável, enfrentar, literalmente é assumir-se, não como pronto, mas como sujeito que se entende entre vários, que abandona velhas práticas e que se manifesta para transformar realidades. Não significa necessariamente ir contra, mas encontrar-se com a iluminação trazida pelo conhecimento, conhecimento de si, do outro e do mundo, o que há dentro e fora de mim mesmo, isto é: as visões de mundo, as cosmovisões.
Na atualidade, as cosmovisões (visões de mundo) são muitas, muitas vozes, mas poucos ouvidos. E este talvez seja o maior desafio da educação na contemporaneidade, qual seja: enfrentar o rigor das paixões por determinadas visões de mundo que se confrontam. É na cosmovisão que a escola, a família, a sociedade, a igreja e os humanos, em geral, se veem defronte.
Ensinar ciências humanas é ressaltar que as visões de mundo são sim diferentes, por vezes desiguais, injustas, incorretas, perfeitas, imperfeitas, mas que dialogam no sentido de construir uma sociedade que precisa enfrentar seus medos, para além de máscaras, bem como as vozes escondidas em redes sociais. Isso inclui os sujeitos donos de si, certos de que possuem um futuro à frente, e que são compromissados com a ética do cuidado.
Acredito, certamente, que posso repetir a pergunta kantiana mais célebre quando vem à tona o assunto do esclarecimento e das visões de mundo. “Vivemos em uma época esclarecida?” Certamente a resposta seria “NÃO”, mas a luz está em nós, especialmente os que “fazemos” educação e que somos apaixonados por ela e pelo desejo de esclarecer. E não apenas esclarecer, mas clarear o penoso caminho que assombra as visões de mundo que se interpõem.
Aprendi, ao longo da jornada, que ensinar ciências humanas é retirar o sujeito de seu cômodo lugar de inércia, de modo a levá-lo ao passado em HISTÓRIA e entender que a atualidade é um reflexo das decisões de tempos anteriores. Para além disso, é mostrar que em SOCIOLOGIA somos feitos sujeitos em uma sociedade cheia de teias e que precisa ser muito bem compreendida, é se localizar em GEOGRAFIA e entender que a divisão do mundo é também uma divisão de poderes. É FILOSOFAR e se questionar sobre saberes vindos de forma mítica, é estranhar, perguntar, duvidar, tolerar, mas saber também o momento de se contentar. “Penso, logo existo”, fim da linha.
As paixões movem as Ciências Humanas. Buscamos nelas formar sujeitos críticos, maiores, que entendam que o mundo depende deles, ou de nós, sem terceirização de responsabilidades e decisões. “Sapere Aude”, ouse saber, vamos além, precisamos incentivar nossos jovens a pensar a sociedade, questionando-a, a rever a história, reescrevendo-a, é entender que os sujeitos são formados em um contexto, que precisa ser muito bem estudado.
Em tempos como os de hoje, nunca fez tanto sentido ser humano e estudar as humanidades, e a maioridade pouco tem a ver com a ideia de progresso, atingimento de uma maturidade, como os positivistas, mas tem muito a ver com as paixões, mas não tanto como filósofos modernos…
Quer uma dica preciosa em tempos desesperadores de busca por uma cura?
_Estude os homens e esteja vacinado!