Eleita para comandar a Prefeitura de Contagem pela terceira vez, a prefeita Marília Campos, assumiu o município em um momento em que vivenciávamos uma das piores crises sanitárias dos últimos tempos com a pandemia da Covid-19. Apesar disso, tem realizado diversas ações com o intuito de melhorar a qualidade de vida da população. Entre elas se destacam os incentivos de renegociação das dívidas com o município; redução do IPTU residencial e comercial e, em especial, a retomada das obras que estavam paradas, buscando ainda a geração de emprego e renda para a população.
Em entrevista exclusiva ao Jornal OFOLHA, Marília fala de sua trajetória e dos desafios das mulheres nos dias atuais, com ênfase na participação delas no cenário político
Jornal OFolha : Gostaríamos de começar relembrando um pouco da sua trajetória? Quando despertou o interesse pela política?
Prefeita Marília Campos: Comecei a minha militância no movimento estudantil e participei da fundação do PT e da CUT no Triângulo Mineiro. Nos anos 1990, fui presidenta do Sindicato dos Bancários e em 1996 disputei pela primeira vez a Prefeitura de Contagem pelo PT, ficando em terceiro lugar. Em 2000, fui eleita vereadora na cidade, depois deputada estadual, em 2002 e prefeita por duas vezes, sendo a primeira na história do município a ser eleita e reeleita, exercendo os mandatos de 2005 a 2012. Em 2014, fui eleita para o segundo mandato na Assembleia Legislativa, sendo reeleita em 2018. Tive a oportunidade de presidir a Comissão Extraordinária de Mulheres, e de ser a primeira presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher do legislativo estadual. Em 2020, tive a honra de ser novamente escolhida prefeita de Contagem pela terceira vez.
Jornal o Folha: A mulher representa 51,8% da população, chefia 45% dos lares e, no entanto, ainda ganha 20,5% menos que os homens e tem pouca representatividade na política. Como a senhora analisa a participação das mulheres na política? Como podemos atrair mais mulheres para ocupar espaço nesse segmento? E como a participação da mulher na política muda a sociedade e esse espaço de poder?
Prefeita Marília Campos: Precisamos ter mais mulheres no poder. Em todos os espaços de decisão, na política, no judiciário, na direção das empresas. Lugar de mulher é onde ela quiser estar. Temos que fortalecer as nossas lutas, pois ser ouvida não é uma tarefa fácil em uma sociedade machista. Precisamos ampliar a representação feminina no legislativo e nas prefeituras. E temos que ter mais mulheres ocupando lugares de protagonismo na sociedade, porque, comprovadamente, as mulheres são em sua maioria governantes melhores, são mais cuidadosas e competentes à frente da gestão pública. Então precisamos ir além da política de cotas nas disputas eleitorais, é preciso que os partidos priorizem e invistam de fato nas candidaturas femininas.
Jornal o Folha: A senhora vem do movimento sindical. Como avalia a participação e importância das mulheres neste segmento?
Prefeita Marília Campos: As mulheres participam ativamente do mercado de trabalho. Há categorias que são majoritariamente formadas por mulheres. Ocupar o espaço de liderança no movimento sindical é algo natural. O olhar feminino nas direções sindicais contribui para que sejam obtidos avanços para as mulheres e para que elas se sintam representadas.
Jornal o Folha: A violência contra as mulheres em suas mais diversas formas, machismo e discriminação de gênero, são pautas fundamentais quando falamos sobre direitos das mulheres. Qual a sua análise das políticas públicas para mulheres?
Prefeita Marília Campos: Tivemos ao longo dos anos, muitas conquistas importantes para as mulheres. A Lei Maria da Penha, criada para enfrentar atos de violência física, sexual, psicológica, patrimonial ou moral contra a mulher, é considerada uma das três leis mais avançadas do mundo pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem). No legislativo estadual, durante meu mandato de deputada, tive vários projetos importantes aprovados, mas destaco dentre eles o que criou o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, 23 de agosto, por meio da Lei 23.144/ 2018. Mas, sem dúvida, temos ainda muito a ser conquistado, inclusive educando melhor as nossas crianças e jovens para conscientiza-los de que mulheres e homens têm direitos iguais e que qualquer forma de violência e discriminação deve ser combatida. A educação tem um papel importante a cumprir para que esse objetivo seja alcançado.
Aqui em nossa cidade, destaco que a Prefeitura, por meio da Superintendência de Políticas Públicas para Mulheres, tem desenvolvido ações para consolidar políticas públicas que visam uma sociedade justa e equânime para homens e mulheres. Investimos na conscientização e no enfrentamento da violência contra as mulheres e ao feminicídio. E mantemos o Espaço Bem-Me-Quero, que acolhe mulheres em situação de vulnerabilidade.
O espaço é vinculado à Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania e foi instituído em 2007, em meu segundo governo. O equipamento orienta e encaminha a usuária para a rede de proteção que a cidade oferta. A metodologia do Bem-Me-Quero foi reformulada, garantindo o atendimento das mulheres trans, lésbicas, negras, indígenas, ciganas, imigrantes e às mulheres nos seus múltiplos femininos.
Trabalhamos de forma integrada com a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), o Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem), a Secretaria de Assistência Social, o Ministério Público, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), o Consórcio Mulheres das Gerais, a OAB Subseção Contagem, o Conselho Municipal das Mulheres, o Comitê Interinstitucional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, a Política Militar (PM), dentre outros órgãos. Tudo isso para garantir a efetividade das políticas públicas.
Jornal o Folha: Quais os principais desafios da mulher nos dias atuais e o que é preciso avançar nesse sentido?
Prefeita Marília Campos: Em uma sociedade em que mulheres são mortas exatamente por serem mulheres, um dos nossos desafios é mudar essa cultura machista, na qual o homem pensa e age como se a mulher fosse posse dele. Nossa luta é permanente. Por direitos iguais, por salários iguais ao exercermos a mesma função, por condições iguais nas disputas eleitorais, para ampliarmos a nossa representação na política. Enfim, os desafios principais seguem sendo a igualdade, a busca pelo respeito, o reconhecimento pela nossa capacidade e pelo papel fundamental que nós mulheres temos na sociedade.
Jornal OFolha: E qual a importância da participação das mulheres nos movimentos sociais?
Prefeita Marília Campos: A participação da mulher é fundamental em todos os espaços. Nas ações da Prefeitura, sempre estimulamos a representação feminina nas instâncias que são criadas. Para que elas sejam paritárias. Desde os conselhos populares nas regionais, passando pelas comissões de acompanhamento de obras e pelos conselhos municipais – saúde, educação, criança e adolescente, segurança, dentre outros – em todos eles, a presença das mulheres é muito forte. São elas que estão à frente das principais lutas por melhorias urbanas e por políticas públicas nos territórios. Não se faz políticas públicas na ponta, nos bairros, sem a presença das mulheres.
Jornal o Folha: A pandemia tem impactado o mundo, fez com que repensássemos maneiras de atuar. Fala-se que um novo mundo deverá vir pós-pandemia.
Na sua opinião que sociedade devemos ter no pós-pandemia, ou que sociedade podemos esperar? Conquistas, desafios, avanços, retrocessos.
Prefeita Marília Campos: A pandemia veio para acentuar a desigualdade social que já existia e foi aprofundada. A pobreza aumentou e vimos isso de perto em nossa cidade, porque tivemos que ampliar as políticas públicas para combater a fome e acolher principalmente as pessoas mais vulneráveis. Já a riqueza ficou ainda mais concentrada na mão de poucos. Este ano, esperamos avançar na vacinação de adultos e em especial, na de nossas crianças. Aos poucos, com firmeza e ações concretas, vamos vencendo a crise sanitária. Infelizmente, a demora em agir, por parte do governo federal, fez com ocorressem milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas. Este ano, teremos eleições presidenciais, e um dos desafios do povo brasileiro é eleger alguém que se proponha a defender a vida e a resgatar a esperança em um país melhor, mais igualitário. Por essa razão, estou ao lado daqueles que acreditam que é preciso um projeto nacional de reconstrução e que esse projeto hoje passa pela consolidação da pré-candidatura de Lula a presidente.
Jornal o Folha: Gostaria de acrescentar algo ou deixar uma mensagem para as mulheres, em especial, as mulheres de nossa cidade.
Prefeita Marília Campos: Nos próximos três anos, vamos investir mais de R$ 1 bilhão em obras na cidade. Esse valor é referente aos contratos herdados do governo anterior e ao novo plano de investimentos do nosso governo, fruto de recursos conseguidos junto ao governo do Estado, emendas parlamentares e recursos do tesouro municipal. Entre 2022 e 2024, serão mais de R$ 155 milhões em 90 demandas, com aplicação de R$ 65 mi na construção de novas escolas, R$ 28 mi em equipamentos de saúde, R$ 14 mi em cultura, R$ 24 mi para o meio ambiente, R$ 12 mi para o esporte e mais R$ 2 mi em desenvolvimento social, R$ 2 mi para projetos da defesa social e, outros R$ 7 mi na administração pública. Há também novos contratos na ordem de R$ 432 milhões com ações de zeladoria da cidade, incluindo limpeza urbana, iluminação pública e manutenção. São investimentos que vão mudar para melhor a vida das pessoas.
Trabalho diuturnamente para que a nossa cidade seja um lugar melhor para se trabalhar, viver e ser feliz. Convido a todos e todas para que nos ajudem a definir as ações necessárias, participando, acompanhando e fiscalizando o governo. E deixo meu abraço fraterno a todas as contagenses, em especial pela passagem do 8 de março. Que sigamos juntas na construção de um mundo justo, no qual homens e mulheres sejam iguais em deveres e direitos.