Claudia Saad
Pedagoga e Mestre em educação pela UFSC, com ênfase em Tecnologias Educacionais. Atualmente é Gerente Pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
E como era antes? Como a escola entendia a relação com a família? E como as famílias se relacionavam com os processos de aprendizagem de seus filhos? A relação entre escola e família poderá ser um dos legados positivos para o pós-covid-19, afinal, todos devem concordar que vivemos um momento de mudanças significativas e de muitas adaptações, seja no campo educacional, das relações ou dos espaços de convivência entre pais e filhos.
Temos uma valiosa oportunidade de pensar em tudo isso que estamos vivenciando. Identificamos novos caminhos e novas possibilidades de estar mais próximos, de realizar um trabalho muito mais afinado no que se refere à educação dos nossos filhos. Ao mesmo tempo, será muito importante ter a clareza e a resiliência para, quando isso tudo passar, não esquecermos de tudo que aprendemos. Não devemos – e não podemos – voltar ao ponto de antes, a ser os mesmos e desperdiçar o que essa “crise” nos ofereceu em termos de mudanças nessas relações.
Educar sempre esteve no escopo dessas duas instituições: família e escola. Afinal, elas sempre tiveram o mesmo objetivo: preparar os filhos para o mundo. A própria palavra traz isso em seu significado: educar vem do latim educare ou educere, que significa ‘conduzir para fora’, ou seja, dar condições para que nossas crianças e jovens sejam seres humanos felizes e capazes de exercer sua cidadania. Se queremos a mesma coisa, precisamos fazê-la juntos!
De um lado, a família, que traz o significado de amor, acolhimento, sustento e transmissão dos valores que fazem parte das suas crenças. Do outro, a escola, terreno fértil do aprender, espaço de desenvolvimento, da descoberta, do respeito às diferenças e oportunidades de convivência em sociedade. Partes de um todo que se complementam, se fortalecem naquilo que é essencial na vida das crianças: preparação para o mundo.
E como unir e alinhar tudo isso? Será que é possível? Trazendo essa reflexão para o momento atual da pandemia, de ensino remoto ou híbrido, essa união e parceria mais do que nunca se fez presente e tornou-se realidade. A escola entrou nos lares e fez um chamado às famílias, quase uma convocação! Na verdade, família e escola entenderam que o momento pandêmico forçou uma nova forma dessas duas instituições se relacionarem. Relação mais próxima e sinérgica, que há muito tempo se desejava. Pais, filhos e escola agora caminham juntos, lado a lado, em uma construção de um processo de aprendizagem que ganhou novos olhares, novos significados, novos formatos.
Nunca se falou tanto em engajamento nas atividades escolares e, ao mesmo tempo, em distanciamento social. Dois opostos que se intensificam e ressignificam diariamente. Pais e filhos hoje sentam juntos para fazer a tarefa de casa, leem e interpretam os textos, ampliam e discutem os conteúdos que estão sendo abordados, trocam ideias sobre o que entenderam nas aulas, sentem as dúvidas e o prazer indiscutível de aprender juntos. Isso tudo em uma medida muito maior de como acontecia antes.
Apesar de tantas dificuldades e desafios, o fato é que isso está permitindo além de uma aproximação com a escola, conhecendo-a bem mais de pertinho, identificar e entender melhor como o filho se torna aluno. Isso é fantástico! Para qualquer educador, isso é genuíno e nos enche de esperança e desejo de que tudo que estamos experimentando, mesmo numa situação tão incomum, não será esquecido ou desaprendido. São muitos os desafios enfrentados, tanto por professores quanto por familiares de alunos, mas tenho certeza de que essa caminhada trouxe ganhos valorosos para escola e para a família, e nada será como era antes.