Coluna Mulher – 28.01.2024 – Mulheres: vamos carnavalizar

Viviane França(*)

Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar,
botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar,
pra dar e vender
(Sérgio Sampaio)

O Carnaval é, sem dúvida, a festa que caracteriza mundialmente o nosso país, está enraizado na cultura do Brasil e vem se destacando ao longo dos anos como um dos espaços democráticos de representatividade social e de reflexões ligadas as minorias.

Igual destaque tem a participação das mulheres no carnaval que vem revolucionando a cada ano com significado e simbolismo.

Inicialmente porque como qualquer outro espaço, o machismo deixa suas marcas no carnaval, durante muitos anos a participação feminina se limitava a sombra de um homem, chegando a passar unicamente pela beleza da mulher (nos desfiles), ou, a trabalhos exclusivamente braçais como costura, cozinha. Dentre outros simbolismos.

Os números mostram o quanto os homens têm uma visão limitada da participação das mulheres no carnaval. A pesquisa do Instituto Data Popular (2016) apontou que 61% dos entrevistados afirmaram que uma mulher que participa do carnaval, não pode reclamar de ser cantada, enquanto 49% afirmaram que carnaval não é um lugar para uma “mulher direita”.

E qual a importância da participação feminina?

Neste sentido, os blocos femininos e feministas tem ganhado a cada ano mais força, e expressão. Os blocos pelo conjunto e diversidade de mulheres que reúnem, hoje são vistos como um espaço de luta e resistência e, precisam de fato ser.

Longe de estereótipos antiquados, as mulheres têm redefinido seu papel nessa celebração, utilizando-a como uma plataforma para expressar poder, autonomia e resiliência. Seja na organização e participação dos blocos femininos, seja na liberdade dos estilos e fantasias. É um momento de desafiar padrões de beleza e comportamentos, sem se preocupar com as expectativas da sociedade e, sobretudo, reivindicar o usufruto da cidade com isonomia.

Consequências disto é a ampliação e desmistificação da participação das mulheres, temos mulheres em diversas frentes: coordenando a bateria, montando enredos, dirigindo os desfiles e a organização, etc…

Ligado a isso o carnaval se tornou um momento de unicidade, uma festa que unifica as mulheres na participação e na luta, unindo diferentes classes sociais e raças em um objetivo comum: usufruir do espaço da cidade como mulher, o que envolve respeito e segurança, nas ruas, nos espaços públicos e privados. Assim, a união do grupo tem ganhado destaque e sido fundamental no combate as variadas formas de violências e na promoção da igualdade de gênero.

É claro que o medo ainda é latente e a violência é real. Puxões de cabelo, agarros forçados, palavras ofensivas, violências de todos os tipos contra mulheres são dados reais ao longo da festa.

Mas, quando as mulheres quebram tabus de roupas, da liberdade do seu corpo, de fantasias, assumem posições de lideranças, organizam seus próprios blocos, não apenas “curtem” a festa, mas, sobretudo, apresentam sua resistência a todos os tabus que o machismo tenta nos impor, enfrentam o machismo e todas as suas violências, latentes na luta feminina.

E por tudo isso o carnaval vem se tornando um espaço de reivindicações de direitos, um período de ampliar as vozes femininas na luta pela igualdade de gênero, para o exercício da liberdade e para o combate à violência.

A festa carnavalesca é mais do que nunca um espaço de luta e de resistência. Por isso mulheres: vamos carnavalizar!

(*) Viviane França: mulher, Advogada, Pesquisadora, Mestre em Direito Público, Especialista em Ciências Penais, autora do livro Democracia Participativa e Planejamento Estatal: o exemplo do plano plurianual no município de Contagem. Secretária de Defesa Social de Contagem/MG, Sócia do França e Grossi Advogados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *