COLUNA EDUCAÇÃO – 30.06.2024 – Hiperconectividade: desafio ou poder da geração Alpha?

Por JACQUELINE VARGAS – Psicanalista com abordagem para a adolescência e pós-graduada em Filosofia, Psicanálise e Cultura. Também é autora do livro juvenil “A arte de cancelar a si mesmo” e roteirista vencedora do Emmy Awards com “Malhação – Viva a Diferença

Qual adulto diante de um enigma tecnológico não recorreu ao jovem mais próximo? Afinal, “eles já nasceram com o celular”!. Depois de 2010, os sucessores da geração Z e dos Millennials nasceram hiperconectados. Reza a lenda que os Alphas serão mais seletivos no consumo das redes sociais, escolhendo melhor o que será exibido em suas telas. No entanto, as telas seguirão como um espelho mágico – o Big Brother particular. Esta geração tem sobre si um grande olho que comporta muitos olhares. São vários reflexos e modelos para seguir – então qual escolher? E como isso impactará na individualidade desses jovens?

A contemporaneidade é baseada em excessos. Hoje tudo é demais. A compulsão pelo concretizado, sem considerar o processo necessário, é uma face do imediatismo dessa abundância. A resposta da performance tem que ser rápida, sem reflexão.

Ao mesmo tempo em que os Alphas conseguem “surfar” tranquilamente nas mudanças e novidades tecnológicas, essa quantidade de possibilidades dificulta o foco e a concentração. É um pouco de tudo e muito de nada.

Inclusive a curadoria aprimorada dessa geração serve para quê? Entender melhor o que deve ser copiado? Escolhido passivamente? Os avatares, filtros e outras ferramentas utilizadas pelas gerações anteriores, podem até ter a cara limpa dos Alphas como substituto, mas a falta de “cara” poderá ser a maior substituição. Afinal, em uma sociedade que preza o êxito independente dos meios, ser o que se espera é menos arriscado.

O receio do erro, a irritabilidade, a ansiedade e a hipocondria são alguns dos sintomas do hiperconectado. Muitos Alphas foram colocados diante de uma tela ainda bebês. Alguns viram a natureza somente por um tablet. Outros só se relacionam no digital. Só que um dos fatores fundamentais para a construção do sujeito é sua interação (presencial) com o próximo. Este será o grande desafio da nova geração.

Ou seja, se por um lado, a tecnologia auxilia positivamente no desenvolvimento da geração, com maior adesão ao novo e adaptabilidade ao mundo, incentivando-os a gerarem mudanças significativas na sociedade, por outro, essa realidade tão conectada pode gerar dificuldade de concentração, ansiedade, menor tolerância à espera e frustração.

É aqui que o papel da escola é ainda mais importante: aproveitar o que a tecnologia tem de melhor, para minimizar tais efeitos. Ao disponibilizar soluções educacionais que desenvolvam as habilidades socioemocionais, por meio do ensino interdisciplinar STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática), por exemplo, as instituições propiciam um ambiente para o fortalecimento de competências como: comunicação, colaboração, criatividade, confiança e resiliência.

Desta forma, é possível fortalecer o protagonismo dos alunos, onde passam a ser autores do conhecimento e o professor passa a ser um mediador dessa jornada, fazendo com que as crianças vivenciem e reflitam sobre o que estão aprendendo.

O fato é que cada geração precisa de uma atenção específica e, por isso, é importante que as escolas estejam atentas à essas necessidades para formar os cidadãos do presente e do futuro, apoiando-os da melhor forma possível na jornada de ensino-aprendizagem.

(*)Luzedna Glece

Diretora proprietária do Colégio Avançar/CEIAV- CEIAV; Vice-presidente Câmara da Educação Infantil ACIC. Uma das fundadoras do Unidas Transformando Você. Colunista da Educação do Jornal O Folha. Formação: graduada em Pedagogia com licenciatura em Orientação, Supervisão, Séries Iniciais e Administração Escolar; pós-graduada em Psicopedagogia Clínica, Licenciatura em Magistério e Graduação em Neurociência; palestrante de temas voltados às áreas de Educação, Motivação, Relacionamentos Interpessoal e Intrapessoal; estudiosa com trabalhos reconhecidos sobre o tema Bullying; experiências profissionais: professora das séries iniciais e do curso de pedagogia, coordenadora, orientadora, diretora de redes particulares de ensino, supervisora, orientadora diretora regional do Sistema FIEMG.

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