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O corpo do ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso (MDB), de 86 anos, está sendo velado, hoje, dia 3, das 10h às 16h, no Palácio da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Cardoso morreu na madrugada deste domingo, dia 2.
O velório é realizado com honrarias, pelo fato de Newton ter sido governador do estado e pela carreira política.
Início da vida
Newton Cardoso, também conhecido como “Newtão” e “Trator”, nasceu em Brumado, em 22 de maio de 1938. Político e empresário, foi prefeito de Contagem de 1973 a 1977, de 1983 a 1986 e de 1997 a 1998. Também foi deputado federal no período de 1979 a 1983, e de 1995 a 1996. Governou o estado de Minas Gerais de 1987 a 1991, e foi vice-governador de Minas Gerais de 1999 a 2003, no governo do Itamar Franco.
Filho de Ápio Cardoso da Paixão e de Adélia da Silva Cardoso, Newton faz parte de uma família de 15 filhos. Divorciado da prefeita de Pitangui, Maria Lúcia Cardoso, deixa 4 filhos.
Deputado federal e filho do ex-governador, Newton Cardoso Júnior (MDB), disse que o pai estava internado há alguns dias para tratar da saúde Ele estava internado há cerca de duas semanas no Hospital Orizonti, no bairro Mangabeiras, na região Centro-Sul do estado. A assessoria de imprensa do deputado informou que a causa da morte foi falência múltipla de órgãos. O quadro clínico, segundo o filho, inspirava cuidados. Ele vinha sendo acompanhado por uma equipe de médicos
Trajetória política
Newton Cardoso concluiu o curso científico no colégio Anchieta, em Belo Horizonte, em 1959. Iniciou e não concluiu o curso de Sociologia, Política e Administração Pública na Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ingressou, a seguir, na Faculdade de Direito da então Universidade Católica de Minas Gerais (UC-MG), pela qual se bacharelou em 1966. À ocasião, Newton adquiriu a cantina da UC-MG, tendo-a doado à universidade enquanto ainda era estudante.
Chegou a Belo Horizonte com a idade de 16 anos para trabalhar na Magnesita S.A., indústria sediada em Brumado, Bahia, e com fábrica em Contagem, Minas Gerais.
Movimento Estudantil
Com ativa participação política na vida estudantil da capital, exerceu a presidência da União Colegial de Minas Gerais (1958), fundou a Casa do Estudante de Minas Gerais (“Mofuce”, em1959), e presidiu o Grêmio General Sampaio (1959), quando era aluno do Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva (CPOR), sendo um dos fundadores da revista daquela corporação, a CPOR.
Quando aluno da UFMG, ocupou o cargo de diretor social do Diretório Central dos Estudantes (DCE), onde dirigiu a revista Mosaico. Ingressou na política filiando-se ao Partido Republicano (PR), cujo Movimento Estudantil e Trabalhista presidiu. Conviveu com figuras preeminentes do partido, como Arthur Bernardes Filho, Clóvis Salgado da Gama e Tristão da Cunha. Desligou –se do PR quando este, na convenção que se realizou no Rio de Janeiro para a escolha do candidato à Presidência da República, decidiu apoiar a candidatura de Jânio da Silva Quadros.
Ingressou na política em 1960, através do extinto Partido Republicano (PR), tendo, nessa época, participado ativamente da campanha de Tancredo Neves ao governo de Minas. Ainda estudante, foi oficial-de-gabinete do prefeito de Belo Horizonte, Jorge Carone (1962).
Mesmo revelando grandes aptidões para a política, Newton acabou se destacando como empresário, entre os anos de 1957 e 1972. Estabeleceu-se como comerciante e industrial, atuando, principalmente, nos ramos de alimentação, vendas de eletrodomésticos, mercado mobiliário e imobiliário. Quando foi eleito prefeito de Contagem em 1972, Newton possuía uma fortuna avaliada em R$ 5 milhões de reais: “Em 1970, encontrei com o José Alencar (vice-presidente da República), que já era um dos maiores empresários do Brasil, e ele me disse assim: ‘Newton, se você vender todo o seu gado e aplicar a 1% ao mês, você será mais rico que eu’”. Alencar referia-se, dentre outras coisas, às mil cabeças de gado que Newton havia declarado, naquele ano, à Receita Federal. Tudo isso fez com que o empresário Newton estabelecesse as bases econômicas e financeiras que construiriam o alicerce de sustentação para suas já manifestas pretensões políticas.
Promulgado o AI-2 (outubro de 1965), que implantou o bipartidarismo no país, Newton Cardoso filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição, tendo sido um de seus fundadores, e ali chegou a exercer o cargo de tesoureiro do Diretório Municipal. Em 1966, candidato a deputado estadual, alcançou a segunda suplência. Empenhou-se, a partir daí, em se afirmar politicamente no município de Contagem.
Prefeito de Contagem pela primeira vez
Em Contagem, seu primeiro intento foi tentar quebrar a hegemonia política da família Camargos, que remontava ao século XIX, candidatando-se a prefeito do município. Realizadas as eleições (novembro de 1967), foi o segundo mais votado, perdendo para Sebastião Camargos. Nas eleições municipais de 1972, reapresentou-se como candidato, obtendo 12.800 votos, 70% do eleitorado do município.
Seu quadriênio (31/01/1973 a 31/01/1977) inaugurou uma gestão descentralizada, com o objetivo de modernizar o processo administrativo. Criou a Companhia Urbanizadora de Contagem (Cuco), empresa de economia mista encarregada de promover todas as obras públicas e de reestruturar o projeto urbanístico da cidade; também, a Fundação de Assistência Médica de Contagem (Famuc). Promoveu, ainda, uma reforma tributária, um novo Cadastro Técnico Municipal e descentralizou as Secretarias. Além de dar prosseguimento às obras do Centro Industrial de Contagem (Cinco), totalmente ocupado em curto espaço de tempo, criou nova área industrial, conhecida como “Cincão”, e construiu toda a malha viária de Contagem.
Em sua administração, a Superintendência de Desenvolvimento de Contagem (Sudecon) foi transformada na Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação-Geral, responsável pelo projeto de grande envergadura denominado Complementação Urbana de Recuperação Acelerada (Cura), no bairro Eldorado. O Cura foi o responsável por obras de grande envergadura no município, tais como a avenida João César de Oliveira, que por sua vez se tornou a principal “artéria de ligação” entre a Cidade Industrial, o Cinco e a Sede (o centro de Contagem). A João César de Oliveira também interligou o município à capital Belo Horizonte (av. Amazonas) e à principal via de acesso de escoamento da produção industrial de Contagem, a BR-381.
Por iniciativa do Newton, a Câmara Municipal de Contagem aprovou a lei nº 1.223, de 1975, que oferecia isenções fiscais de implantação, ampliação, melhoria e funcionamento de hotéis, pousadas, campings e outros estabelecimentos de interesse turístico. Tomou também medidas de combate à poluição ambiental, chegando a interditar uma fábrica de cimento, a Itaú Portland, do grupo Votorantim.
Newton Cardoso também construiu o núcleo urbano Nova Contagem, que atualmente abriga população de mais de 100 mil pessoas. À época, o governador Tancredo Neves considerou o feito como o “início da revolução urbana no país”. Cardoso também implantou o Ceasa e a Estação Eldorado, de metrô.
Como prefeito, foi um dos fundadores e Presidente da Associação dos Prefeitos da Região Metropolitana de Belo Horizonte- Grambel. O objetivo da Grambel era conciliar os distintos interesses dos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e gerenciar ações conjuntas entre essas cidades, com vistas à integração e ao planejamento estratégico desses municípios.
Concluído seu mandato, passou a integrar a equipe administrativa de seu sucessor, exercendo o cargo de Diretor-Presidente da Cuco (Companhia Urbanizadora de Contagem), criado por Newton em 1973. Presidiu, também, o Conselho de Administração da Companhia Urbanizadora do Vale do Aço (Curva), em Ipatinga, MG, e tornou-se membro do Conselho Deliberativo da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O Caso Itaú Portland
O primeiro ano de governança de Newton à frente da Prefeitura de Contagem ocorreu entre janeiro de 1973 e janeiro de 1974. Nesse momento, a prefeitura dava andamento a grande número de obras, como a construção de grupos escolares, do Fórum, do prédio da Delegacia de Polícia, também de postos médicos, asfaltamento de ruas e avenidas, obras de conservação do patrimônio público e obras de implementação do Projeto Cura. Ao mesmo tempo, o município completava 25 anos de sua emancipação, marcada pela chegada da industrialização à cidade.
Segundo pesquisas feitas em jornais da época, a partir de junho de 1975 é que os impasses decorrentes do embate entre as empresas ditas “poluidoras” e a prefeitura acentuaram-se. O “marco catalisador” dessa cobertura foi a divulgação de que o prazo dado pela prefeitura para a instalação de filtros nas fábricas encerrar-se-ia no fim de junho de 1975.
De acordo com os jornais, o prefeito Newton contou, em sua “cruzada contra a poluição”, com o apoio do então prefeito de Belo Horizonte, Luiz Verano (Aliança Renovadora Nacional Militar – Arena), da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (AL-MG) e do então governador de Minas Aureliano Chaves – este último meio oscilante no começo, mas logo depois tendo reforçado o grupo. A posição da prefeitura era a do fechamento da Itaú Portland, grande “vilã” da história. Em determinado ponto desse processo, Newton afirmou: “Se a Itaú não colocar os filtros, vai encerrar suas atividades na Cidade Industrial”.
Os efeitos do embate entre a Prefeitura de Contagem e a Itaú não se restringiram ao município. Seus desdobramentos fizeram-se sentir em todo o país, o que ajudou a trazer à baila o tema do meio ambiente. Também, a fazer com que toda a sociedade se sentisse unida a uma só causa, mesmo num ambiente político no qual não havia espaço para militâncias e manifestações. E, além de tudo isso, a iniciativa da Prefeitura de Contagem e do prefeito Newton Cardoso em declarar “guerra contra a poluição” ainda corroborou com o amadurecimento da legislação ambiental brasileira. O então presidente Ernesto Geisel, no contexto do embate entre a Itaú e a prefeitura, baixou o decreto-lei nº 1413/75 e o decreto nº 76389/75, esse último para regulamentar o decreto-lei.
O impasse entre a prefeitura e a Itaú adquiriu tamanha importância, ganhando contornos nacionais, que o Dia Nacional de Combate à Poluição, comemorado em 14 de agosto, é uma reverência à atitude do prefeito Newton em administrar tendo como prioridade os cidadãos de Contagem.
Primeiro mandato como deputado federal (1979 à 1983)
Antes mesmo de se realizarem as eleições para o parlamento federal, alguns dos principais jornalistas de cobertura política da imprensa mineira já apontavam que Newton Cardoso seria um dos parlamentares mais bem votados do estado. E cumpriu-se a profecia: Newton Cardoso foi eleito deputado federal pelo MDB com 135.900 votos, o mais votado do partido no Brasil e o segundo mais bem votado de Minas Gerais.
Newton Cardoso engrossava as fileiras de oposição ao regime militar da época. Com tiradas ácidas e espirituosas, deixou em “saia-justa” vários políticos e órgãos governamentais. O Ministério da Educação foi um dos “alvos” das críticas do deputado Cardoso, que declarou, em 26/04/1981, frase publicada pelo jornal Folha de S. Paulo: “Como acreditar nos anunciados propósitos governamentais de ênfase ao ensino fundamental, se os valores anuais pagos pela Secretaria de Apoio do Ministério às bolsas de estudo (Cr$3.780,00 para o 2º grau e Cr$2.560,00 para o 1º grau) são ridículos? São suficientes para pagar apenas uma das mensalidades dos cursos a que se referem”. Cardoso fundamentou sua crítica em uma pesquisa realizada por ele mesmo, em Minas Gerais, que constatou a disparidade entre os valores das bolsas anuais e das prestações mensais dos cursos. Disse ainda que, devido ao aviltamento dos valores estipulados pelo MEC, o ministro da Educação poderia ajustar o título desse auxílio ao que realmente ele representava. Ou seja, bolsa de estudos para o pagamento de “um duodécimo da anuidade escolar de primeiro e segundo grau”.
Trazendo para seu mandato parlamentar uma boa visão em favor das causas ambientais, Newton Cardoso defendeu a atuação da Petrobras também no setor de exploração de carvão, xisto-betuminoso (rocha sedimentar que contém óleo em sua constituição e que, quando aquecida, separa seus componentes e adquire características semelhantes às do petróleo) e sucroalcooleiro. Para Newton, a estatal Petrobras seria a empresa mais capacitada a gerir e orientar o consumo sustentável desses recursos. De acordo com Newton, o uso inadequado do carvão mineral desencadearia uma verdadeira “guerra química”, aumentando a poluição e o desmatamento. Essas e outras questões que posteriormente surgiram demonstram o olhar visionário de Newton em relação ao meio ambiente, tema que ganharia maior importância somente a partir da década de 1990.
Newton Cardoso apresentou também projeto de lei que daria nova redação ao artigo nº 33 do Código Tributário, estabelecendo que a base de cálculo para o IPTU seria o valor venal do imóvel. Esse projeto transformaria o IPTU em um eficaz instrumento de correção das distorções democráticas e, portanto, sociais, verificadas nas áreas urbanas dos municípios urbanos.
Cardoso também foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Alimentos e membro da Delegação Parlamentar Brasileira na Organização das Nações Unidas (ONU).
Fazendo-se valer da sua liderança parlamentar e de sua força política, Newton Cardoso, em 1981, acompanhou uma comissão, formada por representantes de diversos setores da sociedade civil organizada, em uma reunião com o então ministro do Trabalho, Murilo Macedo. O grupo propôs a criação de um quadro de inspetores para fiscalização do cumprimento da legislação referente à engenharia e à Segurança no Trabalho, visando à segurança dos trabalhadores.
Newton apresentou inúmeros outros projetos de lei, visando, dentre outras coisas, à mudanças na legislação de proteção ao meio ambiente; à modificação do imposto de renda; ao salário-desemprego; à proteção à fauna e flora. Apresentou também PEC (Proposta de Emenda Constitucional) visando a redivisão tributária às regiões metropolitanas, a exemplo de outros países desenvolvidos.
Em favor da recuperação econômica
Dois projetos apresentados pelo Newton Cardoso foram estratégicos para a recuperação da frágil economia nacional dos anos 1980. Primeiro, apresentou medida que visava à valorização do uso do talão de cheques, à época desvalorizado pelo seu mau uso e pela inadimplência. Basicamente, a medida obrigava às instituições bancárias a efetuar o pagamento mesmo quando não houvesse fundo, dando liquidez aos comerciantes que os recebiam e fazendo a roda da economia girar.
Depois apresentou projeto de lei concedendo incentivo fiscal à pessoa física, visando à aquisição de títulos e ações de pequenas e médias empresas privadas nacionais, capitalizando e fortalecendo as indústrias brasileiras. Os incentivos seriam a redução de alguns impostos.
Segundo mandato pela prefeitura de Contagem (1983 à 1986)
Novamente candidato à prefeitura de Contagem, em 1982, elegeu-se folgadamente, conquistando 92% dos votos válidos. A cidade vivia um caos, e, de acordo com os jornais da época, Newton reorganizou a administração da cidade em pouco mais de 15 meses. No exercício desse segundo mandato, deu especial atenção à implantação de novas unidades industriais (Cinco I, II e III), consolidando, assim, o parque industrial do município; ao programa habitacional Nova Contagem; e aos programas das Frentes de Trabalho e dos Sopões.
A inovação na forma de administrar o município materializou-se na realização das audiências públicas, promovidas em praças de Contagem. Nestas audiências, Newton chegava a receber centenas de pessoas em um só dia. Essas audiências aconteciam em grande número, e prefeitos de várias cidades também o procuravam.
Newton Cardoso não completou seu segundo mandato como prefeito de Contagem, e deixou o cargo em 1986 para disputar o governo de Minas Gerais. Em seu lugar, assumiu seu então vice-prefeito, Guido Fonseca. Ao mesmo tempo, pouco mais de um ano após sua posse como governador, Tancredo Neves deixou o governo de Minas. Neves tornou-se, à época, um nome de consenso entre os partidos de oposição para sucessão presidencial do regime militar.
Eleição para o governo do Estado
Aproximando-se o término do seu segundo mandato na prefeitura de Contagem, lançou-se candidato ao governo de Minas. Á medida, porém, que se aproximava a convenção do PMDB, quatro nomes se apresentaram, postulando a indicação do partido. São eles: Carlos Alberto Cota, Leopoldo Pacheco Bessone, Ronan Tito de Almeida e João Pimenta da Veiga Filho. Este último, porta-voz da chamada Ala Progressista, era o único em condições de enfrentá-lo pelo voto. Às vésperas da convenção, entretanto, o governador Hélio Garcia surpreendeu a imprensa, os meios políticos e os próprios correligionários, ao indicar o presidente regional do PMDB, deputado federal Joaquim de Melo Freire, como seu candidato.
Poucas horas após a indicação, Melo Freire renunciou à candidatura. Discreta, a articulação política foi suficiente, no entanto, para fazer de Newton Cardoso, que pregava a não-descentralização do partido, candidato oficial do PMDB, o candidato a quem o governador se empenharia, a seguir, em eleger para sucedê-lo no Palácio da Liberdade. A vitória de Newton na convenção partidária foi comparável à de Tancredo Neves, em 1982, tal o grande número de obstáculos e dificuldades que se colocaram à frente de ambas as candidaturas.
Governo do Estado de Minas Gerais
Uma intensa maratona de comícios, carreatas e debates levou Newton Cardoso a percorrer todo o estado, ao lado de sua vice, Júnia Marise, que acabou se tornado a primeira vice-governadora do país. Dentre as personalidades que participaram da campanha de Newton, destaque para a presença do “Sr diretas”, como era chamado Ulisses Guimarães. Ulisses participou de alguns eventos em Minas Gerais, como o comício da Praça da Liberdade, em 01/11/1986. A campanha também contou com a presença de Risoleta Neves, viúva de Tancredo, em alguns comícios, como no ocorrido em Divinópolis, em 08/11/1986. E em São João del Rei, no dia 10/11/1986, Risoleta declarou o apoio da família Neves a Newton Cardoso.
Vitorioso no pleito de 1986, Newton Cardoso tornou-se uma das maiores lideranças nacionais. Seu nome apareceu diversas vezes como um dos possíveis presidenciáveis nas eleições que se aproximavam (1989) – a primeira eleição após a redemocratização. Sua atuação nos bastidores e interlocuções políticas, inclusive, foi fundamental para que o mandato do então presidente Sarney pudesse se estender de quatro para cinco anos, garantindo tranquilidade na transição para a abertura democrática. Em uma entrevista para a revista Istoé, em 20/06/1988, Newton afastou os temores de um novo golpe, em virtude da abertura democrática que se avizinhava e do impasse constitucional que envolvia a duração do mandato presidencial, afirmando: “Eu garanto as eleições de 89”.
Newton Cardoso assumiu o governo de Minas com um plano que batizou Programa de Metas (similar ao nome utilizado pelo presidente Juscelino Kubitschek, “Plano de Metas”, para suas principais propostas de governo – JK influenciou fortemente o jovem Newton Cardoso, ainda no movimento estudantil). De acordo com o Plano de Newton, dois terços dos investimentos do estado seriam aplicados em educação, saúde, saneamento, alimentação e desenvolvimento urbano. O apelido de “trator” – uma referência ao grande número de obras empenhadas durante o governo de Newton à frente do estado e ao estilo “duro” de Newton – remonta a essa época. Obras de infraestrutura foram o grande diferencial de seu governo, com vistas à criação de condições para um incremento no desenvolvimento econômico estadual.
É preciso ressaltar, contudo, que, ao assumir o governo do estado em março de 1987, Newton Cardoso encontrou um ambiente socioeconômico desfavorável, pois:
– o risco de hiperinflação era iminente; – o plano Cruzado II, sucessor do “bem-sucedido” Plano Cruzado I, havia fracassado, levando a população brasileira da euforia ao desalento em curto espaço de tempo; – o movimento pelas “Diretas já” havia fracassado e pairava no ar a incerteza da volta da democracia no país, com a morte de Tancredo e a dúvida sobre o tempo de mandato de Sarney, vice de Tancredo.
Nesse contexto, Newton Cardoso encontrou o aparato estatal absolutamente comprometido com o pagamento do funcionalismo: 113% do orçamento eram direcionados à folha dos funcionários de Minas. Isso implica dizer que, além de a despesa ter sido maior do que a arrecadação durante esse período, estava toda ela empenhada para pagar o funcionalismo, o que inviabilizava a realização de investimentos por parte do governo. Sendo assim, um dos primeiros atos de Newton Cardoso como governador foi a exoneração de mais de trinta mil funcionários fantasmas.
Cardoso também ajustou as contas do estado, gerando superávit primário no caixa estadual e vendendo bancos estatais que sangravam o governo, pois, quando assumiu o governo, Newton deparou-se com empresas estatais que operavam nas mais “diversas” áreas da economia: o estado de Minas Gerais era dono de empresas de destilaria de álcool; hotéis; frigoríficos; postos de venda da Companhia Agrícola de Minas Gerais, vários armazéns da companhia de Armazéns e Silos (Casemg); Cia. de Armazéns Gerais Santo Antônio; e a Probam, empresa constituída para centralizar os serviços de processamento de dados dos bancos estaduais. Boa parte dessas empresas gerava prejuízos aos cofres públicos, como os cinco bancos estaduais mineiros: a Agrimisa, o Bemge, o BDMG, o Credireal e a Caixa Estadual. Nesse sentido, um amplo programa de privatizações foi levado a cabo, para otimizar os gastos públicos e concentrar investimentos em áreas prioritárias.
No bojo das medidas que hoje seriam facilmente chamadas de “choque de gestão”, a venda de cerca de 1.500 veículos de propriedade do governo, para que mais de 500 ambulâncias fossem compradas com a verba da venda dos carros.
Newton adotou também o Regime Jurídico Único, que possibilitou aos celetistas (regidos pela CLT) ter os mesmos direitos que os estatutários, dirimindo conflitos nas repartições, estendendo direitos a todos e racionalizando o funcionalismo, dentre outras medidas que contemplavam demandas históricas dos funcionários públicos estaduais. Também, via Plano de Revisão de Proventos dos Serviços Públicos, beneficiou mais de 40 mil aposentados do quadro do magistério.
Em quatro anos de gestão, o governador Newton Cardoso construiu cerca de 6.000 km de estradas, 5.000 m de pontes e viadutos, 267 terminais rodoviários, 14 aeroportos e a “Trincheira” de Contagem, livrando a Praça da Cemig de constantes e intensos congestionamentos. O próprio estado financiou mais da metade (60%) da verba utilizada para o crescimento da malha rodoviária vicinal de Minas, tendo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) financiado o restante (40%). O custo total da restauração, construção e pavimentação do sistema viário do estado foi de U$ 300 milhões.
O acréscimo na disponibilidade de energia do estado também foi prioridade de seu governo, com a construção de 14 barragens no Vale do Rio Jequitinhonha, para a perenização dos rios da região (uma delas, a de Machado Ribeiro, na localidade de Águas Vermelhas, permitiu a ampliação das fronteiras agrícolas de Belo Horizonte em mais de 800 km) – destaque para a Usina Hidrelétrica de Nova Ponte, uma das mais importantes obras executadas no sudeste brasileiro nos últimos anos. Também, com a implantação do Projeto “Com-Luz”, que beneficiou 65 mil moradores de comunidades carentes (favelas), do Projeto “Clarear”, que atendeu a 75 mil pessoas em Belo Horizonte, do Projeto “Iluminas”, um dos maiores de eletrificação rural do Brasil, e do “BID III-Minas Luz”, que beneficiou mais de cinco milhões de pessoas em todo o estado. Os recursos empenhados atingiram a casa dos bilhões em investimentos para geração de energia.
Durante sua gestão, o número de consumidores de energia elétrica aumentou mais de 22%; o consumo de kW/h cresceu cerca de 25%; o número de localidades beneficiadas subiu mais de 32%; a quilometragem da rede elétrica cresceu mais de 32%, o número de postes subiu quase 30%; e a Cemig, ao contrário de outras importantes empresas de geração de energia similares no sudeste do país, foi a única a registrar lucro real no exercício de 1990.
Abaixo, a relação das principais barragens construídas durante seu governo:
– Bananal, no município de Salinas: irrigou 670 hectares e beneficiou 8.500 pessoas; – Salinas: atingiu área de 2.220 hectares e beneficiou 27 mil pessoas; – Setúbal, no município de Minas Novas: atingiu área de 5.150 hectares, com potencial de 3.500 kw; – Calhauzinho, em Araçuaí: irrigou 930 hectares, com geração de 410 kw, e beneficiou 11.600 pessoas; – Samambaia, em Águas Vermelhas: atingiu área de 700 hectares, com potencial de 200 kw; beneficiou 8.500 pessoas; – Mosquito, em Porteirinha: 260 hectares irrigados e 3.500 pessoas beneficiadas; – Caraíbas, entre Salinas e Rubelita: beneficiou 3.200 pessoas, irrigando 250 hectares e gerando 70 kw.
O saneamento e o abastecimento de água também receberam especial atenção do governo Newton, que implantou o Sistema de Abastecimento de água Rio Manso, um dos que abastecem a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Essa obra supriu o déficit que havia no abastecimento de água da RMBH, com 240 km de redes de esgoto – 280 mil habitantes foram beneficiados. Newton também deu andamento a obras de saneamento básico, água e esgoto em 136 municípios do estado. Só na RMBH foram implantados 29.700 m de redes de água e 16.200 m de rede coletora de esgotos, com investimentos oriundos dos caixas do estado, da União, da Caixa Econômica Federal e do BID.
Entre 1987 e 1991, foram construídas mais de 100 mil moradias para famílias carentes no estado. Somente em BH quase cinco mil casas foram construídas, dotadas de rede de esgoto, água e iluminação, com lâmpadas de vapor de sódio – o Programa “BH-90”.
O governo Newton também construiu, ampliou e reformou prédios escolares e unidades de ensino fundamental, médio e supletivo. Foram recuperadas 124 escolas da rede pública estadual e construídas 14 em diversos bairros de BH. Além disso, o governo Newton criou o Centro de Pesquisa Ensino/Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo (Cepe/Itac), na Fazenda Experimental de Pitangui, voltado para a formação de técnicos de agropecuária, para receber alunos do 1º e do 2º graus.
Na área da saúde, ampliou, reformou e construiu hospitais e postos de saúde. O Hospital São José foi reaberto em fins de 1990; Hospital Pronto-Socorro João XXIII também foi um dos contemplados, com reforma e aquisição de novos equipamentos; igualmente, os hospitais Raul Soares, Galba Veloso, Amélia Lins e Eduardo de Menezes também foram beneficiados.
O governo Newton recuperou o acervo arquitetônico da cidade do Serro, e também os prédios das secretarias de Cultura, Obras, Educação e Fazenda, na Praça da Liberdade, e o Terminal Turístico JK.
Durante seu governo, Newton enxugou a máquina pública, extinguiu ou fundiu órgãos e entidades, incorporou, privatizou ou extinguiu empresas deficitárias e foi responsável pela amortização da dívida do estado. A racionalização administrativa e a contenção de gastos do governo Newton foram responsáveis pela sensível redução da dívida do estado, verificada ao fim de seu mandato. Sua administração também foi marcada pela valorização do município, entendido por Newton como a célula geradora do poder e da grandeza do Estado. Todos os 853 municípios de Minas Gerais foram contemplados por pelo menos uma obra em seu governo.
Sua administração enfrentou ruidosa oposição comandada pelo jornal Estado de Minas, órgão dos Diários dos Associados, que nunca deixou de acusá-lo de favorecimento pessoal no uso de cargo público. Por três vezes, a Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais examinou e rejeitou pedido de impeachment do governador por crime de responsabilidade, baseado em improbidade administrativa. Porém, todas as denúncias não se comprovaram. Newton Cardoso nunca foi condenado pela justiça por nenhum ato ofensivo à administração pública.
O governo Newton ainda enfrentou uma tentativa de emancipação do Triângulo Mineiro, ao que o governador prontamente debelou, em defesa da manutenção do território mineiro.
Resumo dos principais feitos como governador:
– Construção de 25% das estradas de Minas Gerais: 6.600 km de estrada foram construídos, com um orçamento de U$ 120 bilhões. O programa de melhoramento de estradas do vale do Jequitinhonha garantiu o fluxo de produção e insumos daquela região e, também, do Vale do Rio Doce até os centros de comercialização do vale do aço e do restante do estado. A integração econômica entre as regiões menos desenvolvidas e aquelas cujo desenvolvimento estava mais avançado foi propiciada, em grande parte, pela construção da malha viária durante o governo Newton.
– Obras de infra-estrutura. – “Choque de gestão”: demissão de cerca de 130 mil funcionários, enxugando a folha de pagamento. – Privatização das empresas que oneravam a folha do Estado. – Inversão de prioridades dos investimentos, com ênfase na educação e no desenvolvimento da infraestrutura do estado. – Elevação de Minas Gerais ao posto de segundo estado mais rico do Brasil.
– Criação da Unimontes. – Construção da Escola de belas Artes Guignard, no bairro Mangabeiras (Tancredo e JK não o fizeram). – Construção de várias termoelétricas. – Construção de 100 mil casas populares.
– Impedimento da emancipação do Triângulo Mineiro, durante sua gestão como governador do estado. – Emprego de sua força política, articulando o mandato de cinco anos para Sarney entre este e os demais governadores dos estados brasileiros.
– Criação do jornal Hoje em Dia
Segundo mandato como Deputado Federal (1995 – 1996) / novamente prefeito de Contagem (1997 – 1998)
Em seu segundo mandato como deputado federal, obteve quase 200 mil votos, o que consolidou o prestígio de Newton junto ao governo federal e ao PMDB.
Terceiro mandato como prefeito de Contagem (1997 – 1998)
Newton não chegou a completar o terceiro mandato como parlamentar, pois se candidatou a prefeito de Contagem novamente, tendo sido o vencedor do pleito de 1996. Quando assumiu a prefeitura a cidade apresentava um quadro de estagnação e retrocesso em seu desenvolvimento, em função da crescente evasão das indústrias – cerca de 400 fábricas haviam deixado a cidade, tendo fechado suas portas ou mudado de cidade. O desemprego havia aumentando vertiginosamente e a arrecadação municipal havia sofrido uma queda significativa: da segunda colocação, Contagem despencou para o sexto lugar no ranking de arrecadação do estado de Minas Gerais. Além disso, os salários do funcionalismo estavam atrasados há vários meses, e as áreas da saúde, educação, os serviços de coleta de lixo e saneamento básico encontravam-se em crise.
Em pouco mais de três meses, Newton promoveu a recuperação do asfalto de ruas e avenidas; instalou programa de saneamento do esgoto do município, com vistas inclusive à despoluição da Lagoa da Pampulha; e implantou o Programa de Retomada de Desenvolvimento Econômico, com vistas a reverter o quadro socioeconômico em que a cidade encontrava-se. A volta de Newton à Prefeitura de Contagem também foi capaz de mobilizar o funcionalismo municipal: em regime de mutirão, os servidores, junto ao governo, promoveram uma verdadeira “faxina” na cidade, fazendo com que os serviços de limpeza urbana e capina voltassem a funcionar a contento.
E as audiências públicas, enquanto ocorriam os mutirões, eram realizadas em todas as quintas-feiras, nas quais Newton ouvia os anseios da população. Com base nesses depoimentos, era feito o planejamento de ações emergenciais no município.
Na área da educação, restabeleceu o pagamento do funcionalismo e o fornecimento de merenda escolar. Na saúde, postos antes fechados foram reativados. Também, o Centro de Especialidades Médicas de Contagem foi criado durante a terceira gestão de Newton à frente de Contagem.
O prefeito Newton também implantou programa de habitação no bairro Sapucaias, numa área total de 400 mil m², doando 578 lotes e financiando as construções das moradias desses beneficiários. A prefeitura também integrou os trabalhos das diversas secretarias da municipalidade para que a infraestrutura necessária para o desenvolvimento da região pudesse ser empreendida. Praças e jardins, igualmente, foram recuperados.
A essa época, o respeitado historiador Francisco Iglésias declarou, ao Jornal do Brasil (JB), em novembro de 1996: “(Newton Cardoso é) um dos políticos mais notórios do país, responsável pela quebra da oligarquia entre a antiga e a moderna política de Minas”.
Outras realizações como prefeito de Contagem pela terceira vez: – canalização de córregos; – entrega de quase 1000 casas populares; – bom relacionamento com a Câmara; – restauração de casarões, como a Casa de Cultura, para abrigar o Centro Cultural; – lançamento do Novo Distrito Industrial na Ressaca, com a instalação de Polo Moveleiro e utilização de madeira oriunda de florestas renováveis (eucalipto) – Newton lançou a “pedra fundamental” do projeto. A iniciativa foi saudada pelo então presidente da Fiemg, Stefan Bogdan Saly, e pelo presidente do Sindimov/MG, Petrônio José Pieri.
A prefeitura fechou o ano de 1997 com orçamento total de R$ 168 milhões (jornal O Tempo, 11/01/98), com investimentos na casa dos R$ 50 milhões. A votação para o terceiro mandato como prefeito de Contagem, tendo como vice Paulo Mattos, rendeu a Newton 124.196 votos, ou 51,78 dos votos válidos. Em 03 de abril, Newton transmitiu o cargo de prefeito para Paulo Mattos, seu vice.
Vice Governador
Newton não chegou a completar o mandato de prefeito, pois disputou as eleições para governo do estado, sendo o vice da chapa de Itamar Franco, pelo PMDB. A chapa saiu vencedora do pleito de 1998, na disputa com o então governador Eduardo Azeredo (PSDB). E embora exercesse o cargo de vice-governador, Newton era “a verdadeira voz de comando na administração mineira”, segundo noticiou a revista Veja, em 10 de maio de 2000. De acordo com a matéria intitulada “O vice que manda”, Newton tinha “sob seu comando direto dez dos mais poderosos órgãos públicos do estado, inclusive três secretarias, (…) (…) e controla diretamente cerca de 10% do orçamento de Minas Gerais. (…) Seu gabinete, no 9º andar do prédio de concreto e vidro que abriga o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, é mais movimentado que o tradicional Palácio da Liberdade, a sede oficial do governo. ‘Sou uma espécie de primeiro-ministro, diz o vice-governador’. (…) (…) Newtão chega a receber uma centena de visitantes por dia em seu gabinete, (…) (…) é o político mineiro que mais recebeu títulos de cidadão-honorário: tem cerca de 300.”
Últimos Pleitos
Em 2006, Newton Cardoso concorreu pelo seu partido, o PMDB, a uma vaga para o senado. Na convenção partidária, Newton com o apoio do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, derrotou o ex-presidente Itamar Franco, candidato apoiado pelo governador em exercício Aécio Neves, candidato a reeleição. Newton obteve os votos de 70% dos delegados do partido, enquanto Itamar ficou com apenas 25% dos 567 votos apurados. A vitória de Newton Cardoso sobre Itamar Franco na convenção do partido foi a gota d’água para saída de Itamar Franco do PMDB, que assistiu à queda de três dos seus maiores anseios dentro partido.
Newton Cardoso, era líder da intenção de votos desde o começo da campanha, mas perdeu a eleição nas vésperas da votação para o candidato Eliseu Rezende (DEM).
Uma de suas últimas aparições públicas foi no velório do ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, no Palácio da Liberdade, em junho de 2023. O herdeiro político do ex-governador é seu filho, Newton Cardoso Júnior, de 45 anos, deputado federal pelo MDB e presidente estadual do partido.