COLUNA EDUCAÇÃO – 22.09.2024 – Desatenção na sala de aula: uma solução para este problema constante

Por LUCIANE PIRES – Psicóloga clínica há 30 anos e tem como segunda formação a pedagogia. Autora do livro “Tenho Um Lugar Para Você”.

Ao longo de três décadas de trabalho com desenvolvimento humano, tanto na área da psicologia, quanto na pedagogia uma questão sempre foi muito presente tanto no consultório clínico quanto no espaço escolar: a falta de atenção. Os problemas de desatenção desviam o foco, reduzindo a capacidade de aprender e de estar no agora.

A desatenção pode ser observada num grau menor, como uma mera distração, mas pode chegar a um quadro de maiores consequências, como um distúrbio que interfere na qualidade de vida. Diante disso, pergunto: para onde olha a desatenção? Pois, se o foco não está naquilo que devemos nos concentrar, há algo que está consumindo a capacidade atentiva das crianças.

Nas escolas, são frequentes os relatos dos professores sobre os olhares dos estudantes que, por vezes, “se perdem”, diante das explicações. Os olhares que parecem “atravessar” o professor, direcionados para algo que não está ali em evidência, intriga educadores atuando em variados níveis de ensino.

Sem entrar no mérito da motivação do estudante ou do aspecto didático de quem ensina, apresento uma reflexão sobre o aspecto relacional sistêmico desta criança. Inconscientemente, ela talvez esteja olhando para questões pendentes do seu “eu interior”. Com isso, não há problema de desatenção, mas sim uma mudança de foco para onde a atenção dela olha.

Parafraseando Alicia Fernadez, o ato de aprender exige uma abertura para novas ideias. Entendo que isso revela a necessidade de disponibilidade interna para estar atento para o novo que vem. Quando o aluno não está disponível para o novo, isso significa que ele ainda está olhando para algo do velho que ainda não foi entendido e esta pendência precisa de resolução.

Existem certos movimentos que acontecem na dinâmica familiar regidos por ordens que precisam ser respeitadas para o bom funcionamento do todo. Se alguma “peça” falta ou está fora de lugar, o sistema em desajuste, busca a volta ao equilíbrio. Do ponto de vista das relações sistêmicas, que as constelações familiares trazem no seu escopo filosófico, a desatenção revela algo que está no nível não consciente e precisa ser visto e incluído.

Para explicar melhor essa situação, ilustro com um exemplo que aconteceu com minha família e virou o tema do meu livro “Tenho Um Lugar Para Você”.  Ainda como aluna do curso em constelação familiar, levei o tema da desatenção vivida por meu filho na escola. O campo da constelação mostrou o movimento inconsciente dele de olhar para o irmão que morreu cedo.

Desde a revelação da história, já que ele não sabia da existência desse irmão, houve uma mudança completa de comportamento. Ele ficou mais falante, atento e alegre. Uma situação inesperada e inusitada para meu filho que nasceu muitos anos depois da morte desse irmão.

O fato é que isso estava interferindo em sua qualidade de atenção na escola, a ponto de retraimento e negação para participar das atividades em grupo. Olhar desta forma para os problemas de atenção não exclui a possibilidade de uma dificuldade neuroquímica que está presente em tantas crianças, jovens e adultos. É antes, um convite a considerar que existem várias possibilidades diante de um problema.

A abertura para uma visão sistêmica da vida, nos auxilia a ter mais leveza, alegria e consciência quando entendemos nosso lugar no mundo e a necessidade de uma postura, ou seja, uma forma de estar e viver que considera o todo e meu papel para o desenvolvimento harmônico do sistema. A nossa atenção pode estar voltada para questões que envolvem nosso primeiro círculo social que é a família.

Assim, considerar a história dos estudantes e ter uma postura que releva as questões de ordem sistêmica no processo de aprendizagem pode contribuir sobremaneira para ampliarmos o nosso olhar para as relações das pessoas na vida e nos seus processos de aprender e se desenvolver na vida. Este é, sem dúvidas, um caminho humanizado e integral para lidar com o desafio da desatenção na sala de aula.

(*)Luzedna Glece

Diretora proprietária do Colégio Avançar/CEIAV- CEIAV; Vice-presidente Câmara da Educação Infantil ACIC. Uma das fundadoras do Unidas Transformando Você. Colunista da Educação do Jornal O Folha. Formação: graduada em Pedagogia com licenciatura em Orientação, Supervisão, Séries Iniciais e Administração Escolar; pós-graduada em Psicopedagogia Clínica, Licenciatura em Magistério e Graduação em Neurociência; palestrante de temas voltados às áreas de Educação, Motivação, Relacionamentos Interpessoal e Intrapessoal; estudiosa com trabalhos reconhecidos sobre o tema Bullying; experiências profissionais: professora das séries iniciais e do curso de pedagogia, coordenadora, orientadora, diretora de redes particulares de ensino, supervisora, orientadora diretora regional do Sistema FIEMG.

COLUNA EDUCAÇÃO – 15.09.2024 – Importância da educação financeira nas escolas?

A importância da educação financeira nas escolas é um tema que vem sendo bastante discutido nos últimos anos após ser definida como obrigatória no currículo escolar pela Base Nacional Comum Curricular em 2020. Afinal, todos teremos que lidar com dinheiro em algum momento e quanto antes aprendermos a gerenciá-lo, mais saudável será a relação com ele.

O que é educação financeira?

A educação financeira ensina as pessoas a administrarem suas finanças, consumir conscientemente, prevenir fraudes, fazer a gestão de dívidas, reduzir a inadimplência, melhorar a qualidade de vida, alcançar metas e muito mais.

O objetivo da educação financeira é permitir que as pessoas mantenham uma relação saudável com seu dinheiro e tomem decisões mais conscientes e assertivas ao longo da vida.

Por que abordar a educação financeira nas escolas?

Entender como o dinheiro funciona e como gerenciá-lo são questões muito importantes para a sociedade em que vivemos. Por isso, especialistas recomendam que o aprendizado sobre como usar o dinheiro comece já na infância. Indivíduos que desenvolvem uma relação saudável com o dinheiro desde criança conseguem administrá-lo com mais inteligência, sabem como manter o controle dos gastos, além da importância de poupar e de planejar seu financeiro, para realizar seus sonhos e conquistar uma vida mais confortável. Confira alguns benefícios:

– Estabelecer e realizar metas

– Planejar o futuro com mais tranquilidade

– Fazer escolhas responsáveis

– Controlar gastos

– Não acumular dívidas

–  Ter um orçamento previsível

– Realizar sonhos

A educação financeira é uma maneira eficiente de garantir qualidade de vida tanto para o presente quanto para o futuro. Isso porque as dívidas, a falta de dinheiro e a imprevisibilidade financeira estão entre as maiores causas de adoecimento e mal-estar mental da população.

Como abordar a educação financeira na escola

Precisamos falar sobre dinheiro, respeitando a linguagem de cada faixa etária, claro, mas é um assunto que deve estar presente desde os primeiros anos de vida. O resultado de abordar a educação financeira na escola desde o ensino infantil é que crianças e adolescentes serão capazes de tomar decisões financeiras muito mais acertadas, possibilitando realizar seus sonhos a curto, médio e longo prazo.

É na escola que os estudantes aprendem a teoria, mas é dentro de caso que poderão vivenciar como a sua família lida com dinheiro, dívidas, consumo e investimentos.

Dessa forma, é preciso que os familiares também procurem aprender e tenham interesse nesse tema, pois o comportamento financeiro dos responsáveis molda a visão financeira que esses jovens terão.

A importância da família no processo de aprendizagem do aluno

Contudo, promover a educação financeira nas escolas inclui muitos desafios, como a formação de professores sobre o assunto, materiais didáticos adequados e preparação de aulas que se adaptem às diversas faixas etárias.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece ainda que o tema seja abordado de forma multidisciplinar, não se restringindo à matemática, mas combinada a questões sociais, políticas, culturais, ambientais e psicológicas, entre outras, podendo ser trabalhada em diferentes áreas. Confira nossas dicas de temas para abordar a educação financeira em diversas disciplinas:

– Impactos sociais do dinheiro

– Mudanças de moeda oficial

– Efeitos da inflação em cada modelo de governo

– Finanças pessoais

– Como economizar dinheiro para realizar um sonho

– Relação entre consumo e controle de gastos

–  Como o consumo irresponsável afeta o planeta

– Poder de compra em diferentes países

– Desigualdade social causada pela má distribuição de renda

– Leitura de gráficos e conceitos como inflação, taxa de juros, impostos

Quanto mais concreto e próximo à realidade dos estudantes for o conteúdo, mais conhecimentos sobre o tema será absorvido.

Aprender sobre educação financeira é tão importante quanto aprender sobre conteúdos tradicionais. Afinal, esses conhecimentos serão usados durante toda a vida do indivíduo e, com consciência financeira, ele poderá contribuir positivamente para o crescimento socioeconômico da população.

(*)Luzedna Glece

Diretora proprietária do Colégio Avançar/CEIAV- CEIAV; Vice-presidente Câmara da Educação Infantil ACIC. Uma das fundadoras do Unidas Transformando Você. Colunista da Educação do Jornal O Folha. Formação: graduada em Pedagogia com licenciatura em Orientação, Supervisão, Séries Iniciais e Administração Escolar; pós-graduada em Psicopedagogia Clínica, Licenciatura em Magistério e Graduação em Neurociência; palestrante de temas voltados às áreas de Educação, Motivação, Relacionamentos Interpessoal e Intrapessoal; estudiosa com trabalhos reconhecidos sobre o tema Bullying; experiências profissionais: professora das séries iniciais e do curso de pedagogia, coordenadora, orientadora, diretora de redes particulares de ensino, supervisora, orientadora diretora regional do Sistema FIEMG.

Coluna Mulher – 08.09.2024 – Contagem é palavra feminina

Viviane França(*)

“Fica constituído, por decisão soberana, o Poder Feminino. Porque feminina é a Lei e feminina é a Justiça. A Liberdade é feminina; A Verdade, a Paz, a Igualdade; a luta, a conquista, a vitória; a paciência, a tolerância, a paixão; e feminina é a Esperança que nos permite confiar no futuro”. (Estatuto da Mulher, por Jovita Levi)

Nada é produto do acaso e não é incomum as coisas mais óbvias produzirem espanto. Para homenagear os 113 anos da nossa Contagem, escolhi uma forma de entrada óbvia, mas não necessariamente evidente: a palavra. Ora, se no princípio de tudo era o verbo (a palavra), começo essa homenagem tomada pela palavra: Contagem.

As palavras não nascem com sentidos determinados pela simples junção de letras. Assim como as pessoas, as palavras significam a partir de aproximações e afastamentos que fazemos delas com outras palavras\pessoas. É o que causará espanto, pois aqui demonstrarei a potência e o poder de atração da palavra “Contagem” e, porque não, da nossa cidade nesses 113 anos.

Em estado de dicionário, contagem significa ação de contar, de calcular, de enumerar. Mas é também um substantivo feminino. É aqui que encontro o caminho para relacionar a palavra contagem com o que significa, para mim, a cidade concentrada na palavra. Ora, é substantivo feminino também é a palavra coragem. Eis uma prova de que nada é por acaso: quer um lugar que representa mais o sentido e a potência da palavra coragem do que esse pedaço de mundo e sua gente?

São femininas também “a Lei”, “a Justiça”, “a Liberdade”, “a Verdade”, “a Paz”, “a Igualdade”…”a Esperança”, de acordo com o Estatuto da Mulher. E nesta homenagem que faço aos 113 anos de Contagem, tomar a cidade pela palavra foi o caminho que escolhi para dizer do significado da cidade onde nasci, cresci e vivo intensamente.

São esses os sentidos que estão associados à Contagem para mim. Símbolo de vida, de resistência e de transformação. “A Cidade” reflete a força, a resiliência e a capacidade de renascer a cada dia, assim como nós, mulheres.

Em Contagem, as ruas contam histórias de batalhas diárias. Cada canto guarda memórias de mulheres que, como “a Vida”, se reinventam a cada instante. Elas são mães, filhas, amigas, trabalhadoras. Mulheres que moldam o presente e constroem o futuro com determinação e coragem. Assim como a cidade, somos todas plurais, complexas, repletas de sonhos e de vontade de fazer a diferença.

E, enquanto nos unimos em busca da “Igualdade”, seguimos aprendendo que a luta é de todas e todos, mas é também uma luta pelo direito de ser, de existir, de conquistar espaços. Porque “a Perfeição” está longe de ser um objetivo, mas sim um caminho onde a imperfeição nos ensina a sermos melhores, mais justas, mais fortes…

Contagem tem “a Beleza” da diversidade, onde o encontro entre o antigo e o moderno constrói novas formas de enxergar o mundo. É nas ruas, nas praças e nas esquinas que descobrimos o poder do feminino, aquele que acolhe, que transforma, que cuida. Contagem é o reflexo de todas nós: mulheres que lutam, resistem, que fazem do amor um ato político e da “esperança”, uma bandeira a ser carregada todos os dias.

Na Contagem do presente, ressoam as vozes de muitas mulheres que têm sido protagonistas de suas próprias histórias, quebrando barreiras, ultrapassando fronteiras e questionando o que é imposto. Elas fazem da cidade o palco de suas vidas, com todas as cores, dores e amores que nela habitam. Elas são a alma desta cidade, o pulsar que nunca cessa, o movimento constante de quem não se permite parar.

A Contagem que homenageio hoje, é a mesma que eu habito desde menina, a cidade que me ensinou sobre “a Luta”, sobre “a Justiça” e sobre “a Esperança”. É a Contagem das mulheres que fazem do verbo resistir uma prática cotidiana. Que, como eu, aprenderam a lutar não só por si, mas por todas aquelas que vieram antes e por todas as que ainda virão.

Convido cada mulher a se reconhecer em Contagem. Porque cada uma de nós carrega um pouco da força dessa terra, um pouco do seu passado, do seu presente e, certamente, do seu futuro. Celebremos Contagem como celebramos “a Vida”: com alegria, com força, com o desejo profundo de construir uma cidade cada vez mais igualitária, justa e feminina!

É curioso pensar em “Contagem” como um substantivo feminino. Talvez porque tudo aquilo que é grande, importante, que tem o poder de transformar, seja mesmo feminino: “A Cidade”, “A Vida”, “A Beleza”, “A Força”, “A Igualdade”. Substantivos que nos lembram que é a potência feminina que constrói e renova!

Parabéns, Contagem! Por ser plural, por ser feminina, por ser resistência e uma inspiração para todas nós!

(*)Viviane França: mulher, Advogada, Pesquisadora, Mestre em Direito Público, Especialista em Ciências Penais, autora do livro Democracia Participativa e Planejamento Estatal: o exemplo do plano plurianual no município de Contagem. Secretária de Defesa Social de Contagem/MG, Sócia do França e Grossi Advogados.