Viviane França(*)
Fazer o caminho de volta
Como quem desfaz um bordado
Recolher o que nos foi subtraído
E recomeçar inteira
Sem dívidas com o passado
Flávia Campos
Começar esse artigo com uma poesia que é pura potência, exatamente como nós mulheres, para refletir um tema que nos é caro, a nossa liberdade de ser.
A violência psicológica pode ser definida como qualquer tipo de conduta que provoque algum dano emocional a vítima, que desestimule sua autoestima, que estabeleça formas de controle da sua liberdade.
De todas as violências tipificadas pela Lei Maria da Penha (11.340/06), é a modalidade de violência mais difícil de ser identificada pela vítima. Isso porque na grande maioria das vezes, é um tipo de violência facilmente romantizada pelas mulheres de um modo geral e, por tudo isso, atinge grande parte de nós.
Como identificar?
Na violência psicológica o agressor apresenta tipos de comportamentos comuns que abaixo exemplifico:
– Inferiorização da Mulher: na relação o agressor está sempre apontando suas falhas. Quase nunca de maneira construtiva mas, depreciando suas ações. Já as suas qualidades não são percebidas. Suas conquistas são irrelevantes ou não interessam.
– Manipulação da Mulher: os erros que o agressor comete são causados por você, ele não tem culpa, tudo são situações criadas por alguma atitude ou omissão sua.
– Domínio sobre a Mulher: o agressor crítica suas amizades, as proíbe, inibe sua relação familiar, não gosta que você exponha o relacionamento a uma terceira pessoa, faz você acreditar que não é capaz de se relacionar com ninguém.
– São exemplos de controle: mentiras, excesso de críticas e ciúmes. Falta de apoio. Controle das suas redes sociais.
– Frases do tipo: me avise quando chegar em casa porque me preocupo. Me passe a senha do seu celular porque isso é confiança. Não use esta roupa está curta demais, cuido de você. Essa pessoa não presta, não converse com ela. Você tem que ficar é em casa.
Porque ainda romantizamos?
Somos pessoas e pessoas também são essência, sentimentos e emoções. Por isso, a violência psicológica é facilmente romantizada pelas próprias mulheres, por todas nós, tornando-se difícil de ser identificada pelas mulheres que, quando percebem já estão numa situação completa de controle e privação.
Romantizamos o ciúmes achando que é zelo. O controle, achando que é cuidado. E assim, como mulheres deixamos que definam nosso modo de vestir, o que comemos, com quem nos relacionamos, o nosso pensamento… enfim, quem verdadeiramente somos.
E Romantizar a violência psicológica é inevitavelmente naturalizar a agressão. Naturalizar a agressão é perder aos poucos a essência de quem você é de verdade, das suas possibilidades de ser.
Naturalizar é privar a sua liberdade. Por isso Mulheres e Homens lembrem-se: a maior forma de cuidado e amor é aquele que respeita você como mulher, e consequentemente respeita a sua liberdade.
Identificar no cotidiano o que são atitudes abusivas é um passo importante para a liberdade, relatá-las também.
Lembre-se: você é uma mulher potente, corajosa e livre para ser… o que quiser ser.
– Denuncie qualquer tipo de violência contra a Mulher: Central de Atendimento à Mulher disque 180; Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher localizadas nos municípios; pelo Disque 100 (Disque Direitos Humanos); no Ministério Público; no canal 153 da Guarda Civil, ainda pelo Site do Ministério dos Direitos Humanos (ouvido ria.mdh.gov.br), WhatsApp número (61) 99656-5008.
(*) Viviane França: mulher, Advogada, Pesquisadora, Mestre em Direito Público, Especialista em Ciências Penais, autora do livro Democracia Participativa e Planejamento Estatal: o exemplo do plano plurianual no município de Contagem. Secretária de Defesa Social de Contagem/MG, Sócia do França e Grossi Advogados.